sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Experiência offline


Pessoal, como o próprio título diz, estou entrando em uma experiência offline a partir de 01 de outubro.

Todos os comentários até e inclusive o dia 30 de setembro serão retribuídos prontamente; os demais, no retorno.

Deixo claro a vocês que não estou terminando o blog, 
apenas quero ter essa experiência em off que 
reservará surpresas e novidades; e espero, muitos fatos divertidos que compartilharei com vocês no retorno.

Agradeço a todos por fazerem parte da minha casa HumorEmConto, e tenham a certeza: 
sempre serão muito bem vindos!

Deixo a todos um abraço do tamanho do mundo!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Catar coquinho na Lapônia



   A Lapônia fica ao norte da Escandinávia e compreende parte do território da Noruega, Suécia, Finlândia e Federação Russa (península de Kola). De clima subártico, a vegetação é esparsa ao norte, e ao sul se situa a floresta boreal. A região foi popularizada no mundo inteiro por ser considerada o local onde reside o Papai Noel.
   Criei recentemente uma expressão para denotar coisas impossíveis: ‘catar coquinho na Lapônia’. Penso que nem o próprio Papai Noel acreditaria que existe algum coquinho a ser catado por lá, mesmo com todo o esforço do faz-de-conta, tendo em vista as características de clima, temperatura. Mesmo a espécie como o Jerivá (Syagrus Romanzoffiana), que tolera geadas, se adapta no máximo às baixas temperaturas de um clima subtropical.
   Assim, pensei nas coisas impossíveis e o quanto é difícil distinguir o que é ou não viável, tendo em vista que existem certas ilusões que nos induzem em expectativas.
   Como diz a música Causa y efecto do cantor e compositor uruguaio Jorge Drexler: “a vida cabe num clic. Em um abrir e fechar (...) Trata-se de distinguir o que vale e o que não vale a pena”. Esta poderia ser uma grande direção para o nosso caminho de vida, se pudéssemos avaliar tudo com lentes de aumento e diferenciarmos, por exemplo, o que é um mero desejo de um sonho, e ainda o que é ou não apenas uma miragem que se apresenta como uma linda propaganda de margarina ou um cartão de créditos sem limite.
   Penso que o próprio contraste da vida nos dará vários sinais que poderão nos tirar da distração de um caminho apenas bonitinho. O que nos faz feliz e a quem gostamos deveria ser prioridade se isso não fará alguém sentir o contrário. ‘Catar coquinho na Lapônia’ pode ser uma experiência inesquecível e dolorosa, o momento em que apostamos todas as fichas e percebemos tudo ir para o espaço sideral em tempos em que o deletar se tornou conjugação diária. E assim poderemos ver um sonho evaporar-se na tecla ‘del’, e sem chances sequer de estar na caixa de spam e muito menos ser compartilhado.
   Mas viver só se aprende vivendo, e ao viver é que se aprende. Então fica aqui minha sugestão, ao catar coquinhos na Lapônia nunca se esqueça de convidar o Papai Noel para essa empreitada, porque se existem coisas impossíveis, teremos que vencê-las com serenidade e humor, até a próxima tentativa.

Crônica publicada nos jornais:
Diário Popular (Pelotas), NH (Novo Hamburgo), 
Correio de Gravataí, Diário de Viamão e Diário de Cachoeirinha.

Meus agradecimentos ao amigo Jacques Beduhn
pela consultoria a respeito da existência ou não de 'coquinhos na Lapônia'
o Jacques também é biólogo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Avatar das cavernas


Fotografia de Jorge Pimenta
   
   Avatar é um termo de origem sânscrita com raízes no Hinduísmo e significa ‘a descida à Terra de uma divindade do Paraíso’. Designação aplicada na informática para uma imagem digital que identifica um cibernauta em todos os espaços virtuais da rede.
   Ao imaginar uma situação hipotética de entrar numa máquina do tempo, fazer uma viagem há 40.000 anos, e chegar ao período Paleolítico Superior, considerado hoje como o primeiro da Humanidade onde há registros de representações artísticas, a chamada ‘arte rupestre’, provavelmente veríamos a confecção das pinturas e gravuras como as descobertas na Caverna da Altamira, na Espanha. Em sua maioria, representações de animais selvagens de forma muito realista, o que para muitos estudiosos representa a garantia do registro do êxito do caçador. O que penso ser uma espécie de rascunho do conceito de avatar, na medida em que exalta e promove o ser humano à categoria de divindade, ao detentor de um poder superior em relação aos animais e a própria natureza.
   Parece-me inerente a necessidade de auto representação simbólica no ser humano, a necessidade, mesmo que velada, de ser uma divindade do paraíso aqui na Terra, um ser celestial travestido de terráqueo; e desta forma sempre foi fundamental o uso das ferramentas que se dispunham em cada momento histórico para se efetivar essa representação. Seja na idade mecânica: nas gravuras ou pinturas desse período; ou na era tecnológica, a partir do instantâneo fotográfico e da digitalização.
   Creio que os símbolos, desde os primeiros registros da Humanidade, estão relacionados de certa forma à virtualidade, no momento em que materializam e capturam os desejos, o ideal de personificação, e que nem sempre coexistem com a realidade, ou a percepção alheia e tudo que envolve o mundo da codificação. A questão do natural ou artificial, real ou simulado, pode ser muito anterior à era digital, na época em que o hacker de hoje seria um animal selvagem.
   Desta forma, penso que muito antes, e o meu ‘antes’ refere-se a milhares de anos da era virtual; lá, no escuro e úmido mundo das cavernas, o ser humano já pensava em multiplicar seu próprio perfil, quem sabe para ser ‘a imagem e semelhança’ de seus próprios deuses, alimentando o imaginário da invencibilidade e imortalidade; um eu-avatar de todos os tempos. 

Crônica publicada nos jornais: 
A Plateia (Sant'Ana do Livramento), NH (Novo Hamburgo), 
VS (São Leopoldo), Diário Popular (Pelotas) e Diário de Viamão.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"A política é a Disney?"



Réplica do castelo de Neuschwanstein, no Minimundo em Gramado, RS.
Fotografia de Ana Cecília Romeu

   "A política é a Disney?". Essa foi a pergunta que minha filha Luíse, de cinco anos, fez quando passávamos de carro onde havia simpatizantes de vários partidos políticos com bandeiras e distribuindo propaganda.
   Naquele momento, pensei ser o razoável tentar explicar o que era voto e que existiam cargos políticos. Mas se formos observar, a resposta poderia ser diferente se não fosse para uma criança.
   Penso que, sim, a política é como se fosse a Disney. É-nos propagada a ideia de um mundo encantado no gesto contínuo de um ‘happy face’, em personagens políticos com carisma e destemidos, como o Pato Donald ou mesmo o Mickey Mouse que declara ter uma Minnie e assim formam um casal de heróis-família; ou os que exploram o que chamo de a ‘teoria do coitadismo da Disney’: personagens órfãos de mãe, que é um tema recorrente nessa grife, por exemplo, o peixinho Nemo; ou os 101 dálmatas desgarrados de seus pais e fugindo das peripécias de uma Cruella Maldita.
   E aqui, num sentido geral, essa teoria do coitadismo pode englobar todo buffet de princesas lindas e sofredoras, assoladas por madrastas malvadas; ou mesmo o príncipe que as salva num belo cavalo branco. Assim, o pretende ao cargo foi no passado uma princesa melancólica, e no presente, o príncipe herói: a salvação de si e de todos. O coitadismo é explorado pelo que levanta a bandeira da superação, porque já teve sérias dificuldades financeiras, ou foi viciado, ou doente, ou, ou... Saiu do inferno direto ao céu, tão rápido e mágico como a fada Sininho, sobrevoando com luzes e glitter o castelo da Cinderela, que, inspirado no de Neuschwanstein, próximo a cidade alemã de Füssen, bem poderia ser nossa Brasília. Talvez um pouco desse ideal tenha nascido nas mentes brilhantes de Niemayer e Lúcio Costa, mas se refletiu apenas no valor arquitetônico.
   A realidade não tem espaço ao vislumbre dos não tão bonzinhos assim, como o Bafo da Onça, e muito menos os irmãos Metralha, que só sabemos que existem e quem são algum tempo depois de assumirem seus cargos políticos.
   Nós eleitores poderíamos ser como os personagens sobrinhos do Pato Donald: garotos inteligentes que superam as expectativas do tio, e estão presentes em todos os fatos, sabem escolher e se expressar. Mas muitas vezes não passamos de alguém simpático e benevolente com fatos e voto, como na versão mais açucarada do personagem Pateta.


Crônica de autoria de Ana Cecília Romeu

*Publicada nos jornais: O Dia (Rio de Janeiro),
NH (Novo Hamburgo), Diário Popular (Pelotas), 
Diário de Viamão, VS (São Leopoldo) e site do Correio Rural.


Abertura do Disney Channel